O Navio mais famoso da historia
Que tipo de navio era o Titanic? O que causou seu naufrágio? Uma visita ao Museu do Povo e dos Transportes de Ulster, perto de Belfast, Irlanda do Norte, nos ajuda a encontrar as respostas a essas perguntas.
Por que o Titanic era tão especial?
Segundo Michael McCaughan, ex-curador do Museu do Povo e dos Transportes, o Titanic e´ “o navio mais famoso da História”. Mas havia outros navios bem parecidos. Ele foi o segundo de três enormes embarcações construídas nos estaleiros de Harland & Wolff, em Belfast. O Titanic estava entre os maiores navios de sua época, medindo 269 metros de comprimento e 28 metros de largura. A companhia de navegação White Star Line mandou fazer essas embarcações enormes para conseguir o monopólio das lucrativas rotas marítimas do Atlântico Norte. A White Star Line não tinha condições de competir com sua concorrente, a Cunard Line, no quesito velocidade. Assim, se concentrou na construção de embarcações maiores e mais luxuosas a fim de atrair passageiros ricos e famosos. Mas o Titanic tinha potencial para desempenhar outro papel. “Entre 1900 e 1914, quase 900 mil imigrantes entraram nos Estados Unidos por ano”, conta William Blair, diretor dos Museus Nacionais da Irlanda do Norte. Transportar essas pessoas da Europa para os Estados Unidos constituı´a a maior fonte de renda para companhias de navegação transatlântica, e o Titanic seria usado para esse objetivo.
A tragédia.
O capitão do Titanic, E. J. Smith, conhecia os perigos que o gelo no Atlântico Norte representava. Ele já havia feito essa rota várias vezes com o Olympic. Vários alertas de icebergs foram enviados para o Titanic por outros navios, mas alguns foram desconsiderados ou pelo visto não foram recebidos pelo capitão. De repente, os vigias doTitanic avisaram que havia um iceberg à frente — mas era tarde demais! O oficial em comando evitou uma colisão frontal, mas não conseguiu impedir que a lateral do Titanic raspasse no iceberg. Isso danificou o casco do navio — e o mar inundou vários de seus compartimentos dianteiros. O capitão Smith logo ficou sabendo que seu navio estava comprometido. Ele enviou mensagens de S.O.S. e ordenou que os botes salva-vidas fossem abaixados. O Titanic contava com um total de 20 botes salva-vidas. Ao todo, eles podiam transportar cerca de 1.170 pessoas. Mas havia mais de 2.200 pessoas a bordo, incluindo passageiros e tripulação. Para piorar a situação, muitos dos botes foram liberados com lotação incompleta. E a maioria deles não fez nenhum esforço para procurar possíveis sobreviventes dentre as pessoas que haviam se jogado no mar. No final, apenas 705 pessoas foram salvas. As consequências, após esse desastre, autoridades marítimas aprovaram normas que melhoraram a segurança no mar. Uma dessas normas exigia que os navios tivessem um número suficiente de botes salva-vidas para todos a bordo. Por anos, as pessoas acreditaram que o Titanic afundou tão rápido assim por causa de um enorme rasgo em seu casco decorrente da infeliz colisão. Mas, em 1985, após a descoberta do Titanic no fundo do oceano, investigadores chegaram a uma conclusão diferente: as águas geladas haviam comprometido o aço do navio, deixando-o quebradiço e levando-o a rachar. Menos de três horas após a colisão, o navio partiu em dois e afundou, entrando para a história da navegação como um dos maiores desastres marítimos.
10 de abril de 1912
O trágico naufrágio fez do Titanic o navio mais famoso da História. Completados no próximo dia 10, os cem anos do acidente que afundou a então maior embarcação do mundo não vão passar em branco. No Merseyside Maritime Museum, em Liverpool, na Inglaterra, onde o transatlântico foi registrado, a exposição "Titanic e Liverpool, a história não contada" apresenta uma série de objetos e documentos relacionados ao tema, enquanto em Belfast, na Irlanda do Norte, onde ele foi construído, acaba de ser inaugurado um prédio moderno para abrigar um museu sobre o navio, cujo roteiro da viagem inaugural está sendo reproduzido a partir deste domingo.
Em Belfast, o prédio metálico, um investimento de 97 milhões de libras (R$ 281 milhões), foi projetado para ser um marco cultural e arquitetônico da capital da Irlanda do Norte, atraindo visitantes para a cidade, marcada por episódios de violência nas últimas décadas. Já foram vendidos, antecipadamente, mais de cem mil ingressos para o museu, em 20 países diferentes.
Com seis andares, o edifício foi erguido nas docas da cidade onde o navio foi projetado e construído, ao longo de três anos. Uma exposição interativa mostra desde a construção e o lançamento do Titanic até imagens atuais da embarcação no fundo do mar. Como num parque temático, recursos audiovisuais recriam o momento do acidente, com depoimentos de sobreviventes.
No total, são nove galerias, que exibem não apenas situações relacionadas ao navio (como a recriação de uma cabine de primeira classe), mas também relativas à cidade de Belfast no começo do século passado, quando o navio foi construído e o lugar vivia um bom momento econômico. A famosa escadaria, um dos cenários principais do filme "Titanic", de 1997, foi recriada, assim como o salão de jantar, área que pode ser alugada para eventos, como festas e casamentos.
Em Liverpool, o Merseyside Maritime Museum está com uma grande exposição, inaugurada na sexta-feira passada, que explora o papel da cidade, e seus moradores, na história do navio, que foi registrado ali. E em Washington D.C. o National Geographic Museum acaba de inaugurar uma outra exposição. Em "Titanic, 100 anos de obsessão", são exibidas fotos e vídeos, além de uma maquete detalhada do transatlântico.
Os maiores mitos que o cinema criou sobre o Titanic
O naufrágio do navio Titanic, que matou 1.513 pessoas na sua primeira viagem, completa 100 anos no próximo dia 14 e muitos mitos criados no cinema ainda são ditos como verdade. Saiba quais são as cinco histórias mais mal contadas sobre a tragédia:
Inafundável
A mãe da personagem Rose, heroína do filme “Titanic” (do cineasta James Cameron), observa o navio e comenta: “Então, este é o navio que dizem que não afunda”. A companhia White Star Line nunca afirmou que o navio era “inafundável” e nunca se falou sobre isso até o incidente, afirma o cientista Richard Howells, do Kings College, de Londres, na Inglaterra.
“Se um homem cheio de orgulho constrói um navio imbatível, como Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, isso carrega um senso mítico porque indica que deus estaria tão zangado por tal afronta que acabaria afundando o navio”, explica Howells.
A última música
No filme “Titanic”, a banda do navio permanece no deck enquanto navio afunda e toca a canção “Nearer, My God, To Thee” (“Mais perto de ti, meu Deus”) aos passageiros que não conseguiriam sobreviver. No entanto, um dos consultores para o filme, Paul Louden-Brown, da Sociedade Histórica do Titanic, afirma que James Cameron apenas usou a cena dos músicos no filme “Uma noite para se lembrar” (1958).
“Ele me disse: ‘Eu roubei isso inteiramente e coloquei no meu filme, simplesmente porque amei. Era uma parte muito forte da história’”, diz Louden-Brown.
Capitão Smith
O comandante do navio, capitão Smith, foi retratado como herói no cinema e ainda ganhou estátuas e cartões postais. Porém, ele é apontado por especialistas como o principal culpado pelas falhas na estrutura de comando a bordo. Smith não deu atenção aos alertas contra gelo e iceberg nem reduziu a velocidade da embarcação quando já se sabia da presença de gelo na rota do navio.
“Ele sabia quantos passageiros e quanto espaço havia nos barcos salva-vidas. Mesmo assim, ele permitiu que os barcos partissem apenas parcialmente cheios”, ressalta Louden-Brown.
Joseph Bruce Ismay, o presidente da White Star
Joseph Bruce Ismay, presidente da White Star, foi acusado de mandar acelerar o navio e escapar da embarcação no primeiro barco salva-vidas disponível, deixando para trás mulheres e crianças. Ele foi execrado em Nova York e aposentou-se falido em 1913.
Lord Mersey, que comandou o inquérito britânico em 1912, chegou à conclusão que Ismay ajudou vários passageiros antes de entrar no barco salva-vidas. “Se ele não tivesse se salvado, salvaria apenas mais uma vida”, pontuou Mersey em relatório.
“Se formos para a origem disso, temos de nos lembrar de William Randolph Hearst, o grande magnata da imprensa nos Estados Unidos. Ele e Ismay brigaram pelo fato de Ismay não cooperar com a imprensa [fornecendo informações] em um acidente com um navio da companhia”, diz Paul Louden-Brown.
Louden-Brown acredita que as acusações são injustas e chegou a discutir o assunto com James Cameron. “É isso que o público espera ver”, teria dito o cineasta ao consultor.
O autor do livro “Como sobreviver ao Titanic: o naufrágio de J. Bruce Ismay”, Frances Wilson, também defende o presidente da White Star. “Ele foi um homem comum pego por circunstâncias extraordinárias”.
Terceira classe
O filme “Titanic” mostra que os passageiros da terceira classe foram forçados a ficar longe do deck e impedidos de alcançar os barcos salva-vidas. Richard Howells, do Kings College de Londres, afirma que não existe evidências para confirmar tal história.
Os portões que os separavam dos demais passageiros do navio foram instalados por exigência da imigração norte-americana, que temia que os passageiros desembarcassem em Nova York sem passar por testes de higiene. Na terceira classe, estavam armênios, chineses, holandeses, italianos, russos, sírios e britânicos.
Evidências apontam que os portões estavam fechados na noite da tragédia e que só depois de a maioria dos barcos salva-vidas terem partido é que os eles foram abertos. Menos de um terço dos passageiros da terceira classe sobreviveram.
A mãe da personagem Rose, heroína do filme “Titanic” (do cineasta James Cameron), observa o navio e comenta: “Então, este é o navio que dizem que não afunda”. A companhia White Star Line nunca afirmou que o navio era “inafundável” e nunca se falou sobre isso até o incidente, afirma o cientista Richard Howells, do Kings College, de Londres, na Inglaterra.
“Se um homem cheio de orgulho constrói um navio imbatível, como Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, isso carrega um senso mítico porque indica que deus estaria tão zangado por tal afronta que acabaria afundando o navio”, explica Howells.
A última música
No filme “Titanic”, a banda do navio permanece no deck enquanto navio afunda e toca a canção “Nearer, My God, To Thee” (“Mais perto de ti, meu Deus”) aos passageiros que não conseguiriam sobreviver. No entanto, um dos consultores para o filme, Paul Louden-Brown, da Sociedade Histórica do Titanic, afirma que James Cameron apenas usou a cena dos músicos no filme “Uma noite para se lembrar” (1958).
“Ele me disse: ‘Eu roubei isso inteiramente e coloquei no meu filme, simplesmente porque amei. Era uma parte muito forte da história’”, diz Louden-Brown.
Capitão Smith
O comandante do navio, capitão Smith, foi retratado como herói no cinema e ainda ganhou estátuas e cartões postais. Porém, ele é apontado por especialistas como o principal culpado pelas falhas na estrutura de comando a bordo. Smith não deu atenção aos alertas contra gelo e iceberg nem reduziu a velocidade da embarcação quando já se sabia da presença de gelo na rota do navio.
“Ele sabia quantos passageiros e quanto espaço havia nos barcos salva-vidas. Mesmo assim, ele permitiu que os barcos partissem apenas parcialmente cheios”, ressalta Louden-Brown.
Joseph Bruce Ismay, o presidente da White Star
Joseph Bruce Ismay, presidente da White Star, foi acusado de mandar acelerar o navio e escapar da embarcação no primeiro barco salva-vidas disponível, deixando para trás mulheres e crianças. Ele foi execrado em Nova York e aposentou-se falido em 1913.
Lord Mersey, que comandou o inquérito britânico em 1912, chegou à conclusão que Ismay ajudou vários passageiros antes de entrar no barco salva-vidas. “Se ele não tivesse se salvado, salvaria apenas mais uma vida”, pontuou Mersey em relatório.
“Se formos para a origem disso, temos de nos lembrar de William Randolph Hearst, o grande magnata da imprensa nos Estados Unidos. Ele e Ismay brigaram pelo fato de Ismay não cooperar com a imprensa [fornecendo informações] em um acidente com um navio da companhia”, diz Paul Louden-Brown.
Louden-Brown acredita que as acusações são injustas e chegou a discutir o assunto com James Cameron. “É isso que o público espera ver”, teria dito o cineasta ao consultor.
O autor do livro “Como sobreviver ao Titanic: o naufrágio de J. Bruce Ismay”, Frances Wilson, também defende o presidente da White Star. “Ele foi um homem comum pego por circunstâncias extraordinárias”.
Terceira classe
O filme “Titanic” mostra que os passageiros da terceira classe foram forçados a ficar longe do deck e impedidos de alcançar os barcos salva-vidas. Richard Howells, do Kings College de Londres, afirma que não existe evidências para confirmar tal história.
Os portões que os separavam dos demais passageiros do navio foram instalados por exigência da imigração norte-americana, que temia que os passageiros desembarcassem em Nova York sem passar por testes de higiene. Na terceira classe, estavam armênios, chineses, holandeses, italianos, russos, sírios e britânicos.
Evidências apontam que os portões estavam fechados na noite da tragédia e que só depois de a maioria dos barcos salva-vidas terem partido é que os eles foram abertos. Menos de um terço dos passageiros da terceira classe sobreviveram.